O mundo enfrenta uma crise sem precedentes nos últimos cem anos. Segundo o Centro de Estudos sobre o Coronavírus da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, até o dia 27 de abril, o mundo registrava 3 milhões casos confirmados e cerca de 210 mil mortes por Covid-19.
Ainda sem um tratamento específico ou vacina, a melhor medida encontrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e mais de 150 países foi o isolamento social. Esta medida colabora para o achatamento da curva de infecção e evita que os serviços de saúde fiquem sobrecarregados causando um colapso em todo o sistema.
No entanto, mesmo com as medidas de isolamento, muitos profissionais precisam estar em seus postos de trabalho, considerados serviços essenciais. Este é o caso das equipes de saúde que, diariamente, cuidam de pacientes que estão com ou sem o vírus.
Em meio a esta crise, o número de profissionais afastados por terem contraído o COVID-19 é consideravelmente alto. O Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças divulgou dados recentes que dão conta de que o país vizinho é, entre todos os afetados, o que mais profissionais de saúde teve infectados.
Cerca de 20% do total de casos confirmados em Espanha são de profissionais sanitários. Na Itália, tão devastada pela pandemia, o percentual é de 10 % enquanto nos Estados Unidos fica em 3%. Na China, ficou em 3,8% do total de casos confirmados. No Brasil, a situação não é diferente, com centenas de profissionais que já contraíram a doença nas principais capitais do país.
Profissionais assintomáticos de equipes assistenciais ou de apoio podem ser vetores e contaminar pacientes fora das áreas de isolamento, bem como acompanhantes e colegas de trabalho. Para isso, medidas de contenção e controle devem ser tomadas, e é neste ponto em que cada detalhe faz a diferença para a segurança do paciente, profissionais de saúde e demais públicos que frequentam os hospitais.
Hospitais devem dedicar equipes assistenciais exclusivas para o atendimento de pacientes nos andares, ou locais, de isolamento. Estes profissionais não devem circular por áreas comuns dos hospitais como, refeitórios, cafeterias, ou andares de internação comuns, com trajes de isolamento ou, se não for estritamente necessário.
As equipes de limpeza e higienização devem ser dedicadas aos cuidados dos locais de isolamento. Carrinhos funcionais, e demais materiais utilizados para a limpeza deverão ser higienizados com frequência.
Os profissionais de limpeza e higienização e demais equipes de apoio que tiverem acesso aos locais de isolamento deverão usar EPIs adequados. A limpeza e higienização de áreas comuns e postos de enfermagem deverão ser realizadas com maior frequência.
Pontos de contato como maçanetas, puxadores, balcões, computadores, botões de elevadores etc., deverão receber atenção especial e deverão ser higienizados mais vezes. É importante também higienizar com frequência os dispensadores de álcool em gel. O monitoramento de saúde dos profissionais alocados nas áreas de isolamento deverá ser realizado com frequência.
Zelar pela vida de quem cuida ou salva vidas também deve ser uma prioridade das instituições, uma vez que, sem esta mão de obra, não haverá combate ou tratamento viável para frear o número de vítimas feitas pelo novo coronavirus.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, orientou hospitais a suspenderem temporariamente a realização de cirurgias eletivas em todo o país. A receita prescrita pelo ministro para garantir a disponibilidade de leitos de internação no enfrentamento da doença, no entanto, traz um grave efeito colateral para a saúde financeira dos hospitais privados. Eles respondem por 63% dos cerca de 420 mil leitos de todo o país, mas, com a suspensão de parte de suas receitas, muitos correm o risco de entrar em colapso e fechar vagas de internação antes mesmo do pior momento da pandemia, previsto para os próximos meses.
Levantamento feito pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH) revela que a rede privada já começa a sentir os efeitos da medida. A ociosidade no Rio de Janeiro, que tem uma das maiores redes hospitalares do país, já alcança 90%. No Ceará, a demanda por serviços caiu 80%.
“Nós entendemos que a atitude do governo é assertiva e que não tem outra maneira de frear a pandemia que não seja o isolamento social. Mas a grande preocupação da federação são os pequenos e médios hospitais, até mesmo, alguns grandes. Eles não têm uma estrutura econômica para suportar a suspensão de suas cirurgias eletivas e outros procedimentos que fazem parte de sua rotina e garantem a receita necessária para manter a máquina funcionando”, avalia o presidente da FBH, Adelvânio Francisco Morato.
Segundo o dirigente, os hospitais têm um “preço fixo” que garante o seu quadro permanente de profissionais e seu custeio operacional.
“Independentemente de haver 10, 20 ou 50 pacientes, o custo para manter a estrutura funcionando é o mesmo, não vai mudar. São os profissionais que fazem com que toda a cadeia produtiva do hospital funcione. Estes profissionais representam cerca de 50% dos custos destes hospitais. Com a suspensão destes procedimentos, vivemos hoje um risco de desospitalização. E isto, a médio prazo, poderá levar ao fechamento de leitos e ao encolhimento da rede em um momento crucial para a população”, avalia Morato.
Para ele, a situação é preocupante e precisa ser revista.
“Existe uma frase que define bem o problema e é preciso que se diga: o coronavírus vai causar mais falidos do que falecidos. Isto porque a estrutura hospitalar brasileira de pequeno e médio portes não têm como suportar a suspensão de suas receitas. E não estamos falando da Avenida Paulista, mas dos interiores deste Brasil continental. É muito difícil falar da questão financeira num momento como este, mas somos heróis, somos médicos. As pessoas que mais pagam tributos neste país. E quando esta pandemia acabar, e ela vai passar, não vamos ter rede hospitalar suficiente para atender a população nos seus devidos municípios e estados”, explica Morato.
Dados do SUS dão uma ideia do volume de perdas. Somente em janeiro, antes do início da crise, foram realizadas 181 mil cirurgias eletivas no país, que responderam por 20% do total de procedimentos médicos realizados.
A recomendação do ministério da Saúde atinge também as consultas ambulatoriais que estão sendo drasticamente reduzidas. De acordo com a Agência Nacional de Saúde, em 2018, foram 2.844.285.716 atendimentos ambulatoriais feitos aos pacientes de planos de saúde.
Morato alerta para outro efeito colateral que a suspensão dessas rotinas pode provocar:
“Sabemos que cerca de 80% de consultas médicas são relacionadas a doenças crônicas. A mudança na rotina vai afetar diretamente a saúde destes pacientes que precisam ir regularmente ao médico. São pessoas com diabete, hipertensão, entre outras doenças que, se não tiverem suas doenças sobre controle, engrossarão as fileiras dos grupos de risco. Neste momento, tão importante quanto o isolamento social, é priorizar a saúde da população”, alerta o médico.
FALTA DE INSUMOS DE PROTEÇÃO E DE KITS DE DIAGNÓSTICO AGRAVAM CRISE
Enquanto assiste ao encolhimento de suas receitas, a rede privada de hospitais enfrenta também outro efeito colateral da pandemia: o desabastecimento e a alta de preços de insumos básicos. Desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus em 26 de março, os hospitais têm dificuldade para comprar materiais como máscaras, aventais e álcool em gel. Segundo pesquisa da FBH, alguns destes insumos aumentaram em até 400 %.
“Quando falamos de pandemias em um hospital, são fundamentais os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) dos nossos profissionais, mas estes insumos não estão chegando aos nossos hospitais. Os governantes tinham que olhar isto. Os equipamentos estão aumentando 300 a 400%. Uma caixa de máscaras que você compra a R$ 4,60, hoje ela está custando até R$ 80 e você não encontra para comprar. A unidade de álcool em gel saiu de R$8,50 para R$ 24,90 e virou motivo de briga nas redes de supermercados. As pessoas compram de forma indiscriminada e não há controle, o que provoca desabastecimento na rede hospitalar. Uma caixa com cem luvas que custava R$ 16,65 e agora sai por R$ 22,50. Onde estão os órgãos de controle que deveriam estar fiscalizando isto?”, questiona Morato.
Segundo Morato, embora respondam pela maior parte da rede, os hospitais particulares também ficaram de fora da distribuição de kits de diagnósticos:
“Nos Estados Unidos, o presidente Trump fez um exame e gastou um dia para ter o diagnóstico, ou seja, nem mesmo eles estavam preparados para isto. A China consegue este resultado em 20 minutos. A Fiocruz está constituindo estes kits e alimentando os hospitais públicos de referência que o Ministério da Saúde colocou em todos os estados. Mas quando estamos falando de pandemia não existe público ou privado. Somos todos hospitais. Então não pode ter esta diferenciação. Não adianta eu ter uma suspeita, se eu não tiver condições de concretizar o diagnóstico. E precisamos disto para ter o controle da pandemia”, observa o presidente da FBH.
Enquanto aguarda por um cronograma de ação que garanta condições mínimas para o enfrentamento da doença, a rede privada enfrenta ainda outro problema. Até o momento, a Agência Nacional de Saúde Suplementar ou mesmo o governo federal não definiram qualquer mecanismo para que hospitais privados possam cobrar a conta dos atendimentos dos pacientes de coronavírus que já estão sendo atendidos pela rede:
“O governo não estipulou qualquer mecanismo para cobrança, não existe um código que os hospitais possam lançar no sistema para cobrar das operadoras de saúde ou mesmo do SUS esta conta. E não podemos deixar de atender a um paciente que chega com suspeita de coronavírus”, reclama o presidente da FBH.
A federação vem participando de inúmeras reuniões com o governo federal e as secretarias estaduais, mas até o momento não houve qualquer definição para a rede privada:
“O governo precisa desonerar a folha de funcionários e a tributação destes hospitais, precisa facilitar a chegada destes kits de diagnósticos e de EPIs. Precisamos de condições de trabalho, de equipamentos de EPIs, de kits de diagnósticos e de respiradores. Precisamos todos estar prontos para o turbilhão que ainda está por vir”.
O Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (IDOR) e a Rede D’Or São Luiz estão com inscrições abertas, até o dia 04 de novembro, para o processo seletivo de estágio em Medicina Intensiva e Emergências Médicas. São 96 vagas para a primeira opção, distribuídas entre os hospitais: Barra D’Or, Copa D’Or, Copa Star, Quinta D’Or, Rios D’Or, Norte D’Or, Niterói D’Or, Caxias D’Or, Oeste D’Or e Clinica São Vicente. A opção por Emergências Médicas reúne 20 vagas, repartidas entre as unidades Copa D’Or e Quinta D’Or.
Para Rosa Vianna, coordenadora do Programa de estágio do IDOR/RDSL, o que não faltam são motivos para concorrer a uma das vagas. Rosa destaca que os estágios oferecem uma oportunidade única de aprender com médicos renomados, além da vivência da rotina da profissão em hospitais que são referência no país. Além disso, os estágios proporcionam uma real chance de efetivação. “Em média, 70% dos estudantes que passam pelo estágio são contratados pela Rede D’Or”, afirma.
Para concorrer a uma das oportunidades em Medicina Intensiva, é preciso ser aluno do 9º, 10º ou 11º período do curso de Medicina no primeiro semestre de 2020. Para a área de Emergência Médica, a condição é estar cursando entre o 8º e o 12º do curso de Medicina no primeiro semestre de 2020. O estágio é de 18 horas semanais, dividido entre prática (12h) e aulas teóricas (6h), e oferece bolsa de R$ 550,00, alimentação, vale transporte municipal e seguro para acidentes pessoais.
A prova será no dia dez de novembro, no Hotel Windsor Barra, e o estágio está previsto para começar no dia treze de janeiro do ano que vem. Confira o edital do concurso no site do IDOR (www.idor.org.br).
Começou nessa quarta-feira (7) e vai até sexta-feira (9) a 6ª edição do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). Realizado no Sheraton São Paulo, o evento traz como tema a “Eficiência: como o combate ao desperdício irá transformar o sistema de saúde”. Ao longo dos três dias, lideranças do setor saúde vão debater soluções para desafios atuais, como novos modelos de remuneração do setor e novas maneiras de pensar a atenção à saúde, tanto do ponto de vista de gestão e operação como da assistência.
“Nesta edição colocamos em foco temas que apontem os problemas e busquem soluções para uma questão bastante importante, que é a necessidade da excelência na eficiência como uma das formas de combatermos o desperdício para melhorar os serviços no sistema de saúde. Ao buscarmos essa excelência, teremos upgrade considerável em todo o segmento, tanto em gestão como em atendimento ao paciente”, detalha Martha Oliveira, Diretora Executiva da Anhap – Associação Nacional de Hospitais Particulares.
Presente na abertura do congresso, o presidente da Federação Internacional de Hospitais (IHF), Francisco Balestrin, destacou que é importante investir em gestão hospitalar, bem como em um modelo de financiamento público-privado. “Dessa forma, o Brasil, que já tem experiências exitosas, terá um sistema capaz de oferecer atendimento de qualidade para todos”, afirma Balestrin, que aponta o Hospital do Subúrbio, em Salvador, como o único no país em que há realmente uma integração público-privado.
Para o vice-presidente da Rede D’Or São Luiz, Paulo Moll, discutir formas de reduzir o desperdício é uma questão fundamental para a sustentabilidade do setor. “Com cuidado e controle, podemos evitar o desperdício e aumentar a escala de atendimento. Mas só conseguiremos com todos trabalhando em conjunto. Somente com um setor unido, vamos trazer de volta os 3 milhões de clientes que a Saúde Suplementar perdeu com a crise, além de atender uma parcela maior da população”, avalia Moll.
O presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Reinaldo Scheibe, espera que o próximo Governo esteja atento às demandas do Setor de Saúde, inclusive ao da iniciativa privada. Hoje, os planos de saúde respondem por 95% das internações dos principais hospitais privados do país. “É fundamental que haja uma integração dos ministérios da Saúde, Educação, Fazenda e Planejamento. Esse é um importante passo para que o país consiga propor soluções efetivas para os desafios que enfrenta”, destaca Scheibe.
O presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Eduardo Amaro, e o diretor do Hospital Santa Joana, Antonio Amaro, estiveram presentes, nesta quarta-feira, na abertura da 6ª edição do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), que acontece no Hotel Sheraton, em São Paulo. Com o tema “Eficiência: como o combate ao desperdício irá transformar o sistema de saúde”, o evento reúne lideranças do setor que vão debater soluções para questões como modelo de remuneração e novas formas de pensar a atenção à saúde.