Terapia CAR-T de alvo duplo desacelera câncer cerebral agressivo
Descobertas foram apresentadas no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica

 

Matéria publicada pela NuOn Health

Uma abordagem terapêutica com células CAR-T de alvo duplo se mostrou promissora para desacelerar o crescimento tumoral em um tipo notoriamente agressivo e de rápido crescimento de câncer cerebral. Os tumores diminuíram de tamanho após a terapia experimental em quase dois terços dos pacientes. Embora os dados de sobrevida ainda estejam sendo coletados, vários pacientes viveram 12 meses ou mais após receberem a terapia em investigação — um resultado notável, dado que a sobrevida típica dessa população é inferior a um ano.

As descobertas foram apresentadas no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e publicadas simultaneamente na Nature Medicine por pesquisadores do Abramson Cancer Center (ACC) da Universidade da Pensilvânia e da Perelman School of Medicine da Penn.

Os resultados ampliam o otimismo gerado por um relatório anterior do mesmo ensaio clínico de fase I publicado no ano passado, além de corroborarem achados semelhantes de outros pesquisadores nos Estados Unidos. O glioblastoma (GBM) é o câncer cerebral mais comum — e mais letal — em adultos, com expectativa média de vida de 12 a 18 meses após o diagnóstico, apesar de décadas de pesquisa intensiva. Mesmo com tratamento agressivo, o câncer reaparece, ou recidiva, em quase todos os pacientes. A sobrevida mediana varia entre 6 e 10 meses.

“Ver tumores de GBM recorrente encolherem dessa forma é extraordinário, pois os imunoterápicos testados anteriormente não foram capazes de fazer isso”, disse o investigador principal Dr. Stephen Bagley, professor assistente de Hematologia-Oncologia e Neurocirurgia. “Antes do ensaio, muitos desses pacientes tinham tumores crescendo rapidamente, e o tratamento mudou a trajetória da doença — algo muito significativo para pacientes com GBM.”

Terapia CAR-T de alvo duplo desenvolvida na Penn

A terapia CAR-T é uma forma de imunoterapia personalizada que utiliza as próprias células imunes do paciente para combater o câncer. Embora já tenha tido grande sucesso em cânceres hematológicos, ainda tem dificuldades para avançar no tratamento de tumores sólidos, como os cerebrais.

O produto CAR-T utilizado neste estudo, desenvolvido na Penn, é único por mirar dois alvos tumorais ao mesmo tempo: o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) e o receptor alfa 2 da interleucina-13 (IL13Rα2). A administração é feita por injeção no líquido cefalorraquidiano. A construção da CAR de alvo duplo foi realizada no laboratório do Dr. Donald M. O’Rourke, professor de Neurocirurgia e diretor do Centro de Excelência para Glioblastoma no Abramson Cancer Center, que também atuou como orientador científico do ensaio.

Redução temporária do tumor na maioria dos pacientes

O estudo incluiu 18 pacientes com GBM recorrente, que passaram por cirurgia para remover o máximo possível do tumor, seguida da infusão da CAR-T diretamente no líquido cefalorraquidiano. Dos 13 pacientes que ainda tinham pelo menos 1 cm de tumor remanescente após a cirurgia, 8 (62%) apresentaram redução tumoral após a terapia.

Embora em muitos casos os tumores tenham voltado a crescer em um a três meses, houve sinais animadores:

  • Dois pacientes (11%) permanecem vivos com a doença estável por mais de seis meses.
  • Entre os 7 pacientes com pelo menos 12 meses de acompanhamento, 3 (43%) ainda estavam vivos após um ano.
  • Um desses pacientes permanece com doença estável por mais de 16 meses, mesmo com doença avançada e crescimento tumoral rápido na inclusão no estudo.

Os pesquisadores também encontraram indícios de que a terapia permanece ativa no sistema imunológico após a infusão. Em um paciente que passou por nova cirurgia devido à recidiva, foram detectados efeitos positivos da terapia no tecido removido, como infiltração de células T no tumor e eliminação de células tumorais por macrófagos.

Amostras de líquor de outros pacientes também mostraram sinais de estimulação imunológica, incluindo um caso com células CAR-T ainda detectáveis um ano após o tratamento.

“Esses resultados confirmam que estamos no caminho certo com a terapia de alvo duplo e que temos uma boa base para aprimorar visando resultados mais duradouros”, disse O’Rourke. “Períodos de estabilidade, quando os tumores encolhem ou não crescem, melhoram significativamente a qualidade de vida do paciente. Nosso objetivo é refinar o tratamento para que mais pacientes experimentem benefícios prolongados.”

Na próxima etapa do estudo, a equipe planeja testar doses repetidas da terapia, avaliando se isso prolonga o tempo até a progressão tumoral.

Hospital Unimed Volta Redonda realiza primeira cirurgia cerebral com paciente acordada na região Sul Fluminense

 

Da Redação

O Hospital Unimed Volta Redonda, referência em procedimentos de alta complexidade, realizou com sucesso a primeira neurocirurgia para tratamento de tumor cerebral com a paciente acordada. O procedimento foi realizado pelo neurocirurgião Júlio Meyer, marcando mais um avanço importante na saúde da região Sul Fluminense.

A técnica, conhecida como craniotomia com paciente acordado, é realizada com o paciente conversando durante parte do procedimento, permitindo maior precisão no mapeamento das áreas cerebrais sensíveis para garantir uma retirada mais segura do tumor, minimizando riscos de sequelas neurológicas. Inicialmente, o paciente é sedado para a abertura do crânio e, em seguida, acordado com a retirada da sedação pelo anestesista.

Neste momento, o neurofisiologista, médico especializado no estudo do funcionamento do sistema nervoso, estimula o paciente com atividades relacionadas às funções da área cerebral que está sendo operada. A partir das respostas e possíveis disfunções apresentadas, os médicos identificam até onde podem remover o tumor sem causar prejuízos neurológicos.

O Meyer explicou que essa técnica tem ganhado cada vez mais espaço nos últimos anos justamente por possibilitar a preservação de funções importantes, como a fala, compreensão e visão. “Essa cirurgia vem evoluindo devido à possibilidade de preservar áreas funcionais do cérebro, garantindo mais segurança ao paciente”, destacou o especialista.

A equipe cirúrgica também contou com os médicos: Carlos Roberto Filho, Hebert Spener Junqueira, Karine Toledo e André Pedrote.

Para o presidente da Unimed Volta Redonda, Vitório Moscon Puntel, a realização da cirurgia reforça a capacidade do hospital da Cooperativa em oferecer serviços de alta complexidade e evidencia a qualidade do seu corpo clínico: “Estamos sempre buscando oferecer novos serviços que ainda não eram disponibilizados, preenchendo uma necessidade da nossa região. Para isso, investimos muito em nossa estrutura física, além de trazer novas tecnologias no mercado de saúde. Também contamos com um corpo clínico que segue o nosso propósito de cuidar da saúde e bem-estar das pessoas e entrega o nosso Jeito Unimed de Cuidar, que tem os pilares: Gentileza, Respeito, Competência e Segurança”, afirmou.

Simpósio da Oncologia D’Or debate avanços em diagnóstico e tratamentos hematológicos
Uso de IA e avanços na terapia celular estão entre os destaques da programação

 

Da Redação

Os últimos avanços sobre diagnóstico e tratamento do câncer hematológico serão apresentados no X Simpósio Internacional de Hematologia Oncologia D’Or, que acontece em 30 e 31 de maio no Rio de Janeiro. Cerca de 50 palestrantes, incluindo três convidados internacionais, vão discutir casos reais, que também serão a base para falar sobre a patogênese das doenças, os métodos laboratoriais que permitem a correta identificação do câncer e as melhores alternativas terapêuticas. Uma mesa sobre a incorporação de Inteligência Artificial na hematologia encerra o primeiro dia do evento. “Nos últimos anos, registramos um salto relevante no uso de IA, que nos permite, através da criação de algoritmos, a predição com muita precisão de diagnósticos”, ressalta Fabio Nucci, que ao lado dos também hematologistas Ana Lúzia Schriefer, Edvan Crusoé e Renata Lyrio, responde pela coordenação do simpósio.

Nucci relata que existe uma preocupação com o aumento de casos de leucemia. Segundo o INCA, são estimados cerca de 12 mil diagnósticos por ano no Brasil. Existem 12 tipos de leucemias, sendo as mais comuns a leucemia linfoide aguda, recorrente em crianças, e a leucemia mieloide aguda, que atinge normalmente adultos. Felizmente, ressalta o hematologista, os avanços da medicina têm proporcionado terapias que abriram novos horizontes para o tratamento das doenças. Ele cita como exemplo as descobertas na área da oncogenética, com o desenvolvimento de tecnologias de terapia celulares, como por exemplo, o CART-cell que permite tratamentos cada vez mais personalizados para os pacientes com leucemias. “Até décadas atrás era quase que impossível tratar pacientes mais idosos. Hoje esse cenário mudou e podemos oferecer linhas terapêuticas para toda a população, independentemente da idade”, celebra.

O coordenador observa ainda que o simpósio traz um modelo bastante didático e atualizado. Será uma oportunidade de poder interagir com especialistas que são referência no Brasil e no mundo e se aprofundar em questões importantes na prática clínica. Vão estar presentes nomes como o do Eduardo Rego, coordenador nacional da Hematologia da Oncologia D’Or e vice-presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH); Alan Skarbinik, diretor dos programas de Linfoma, Leucemia Linfocítica Crônica, Terapias Celulares e Terapias Experimentais na Novant Health, em Charlotte, e Luciano Costa, professor de Medicina e Pesquisador Clínico Sênior no O’Neal Comprehensive Cancer Center da University of Alabama, em Birmingham.

A edição deste ano manterá a tradição das anteriores de debater questões do dia a dia do hematologista e a prática clínica com experientes profissionais do setor, bem como de atualizar o público sobre os avanços em novos fármacos destinados a doenças onco-hematológicas. “Outro diferencial do nosso simpósio, principalmente para estudantes de pós-graduação e graduação, é a experiência da Oncologia D’Or com equipes multiprofissionais de saúde, que estão presente em nossas clínicas”, salienta Fabio. Por sinal uma das mesas do primeiro dia será sobre a importância de uma abordagem multidisciplinar.

A programação também terá mesas sobre hematologia benigna, linfomas agressivos, amiloidose e linfomas indolentes, que terá a presença do dr. Skarbinik, entre outros temas. Ao todo serão sete módulos, além de sete simpósios satélites. “Foi tudo pensado para trazer os temas mais atuais e que têm sido discutidos nos principais congressos do mundo. Temos a certeza de que o Simpósio será uma excelente oportunidade de atualização para estudantes e profissionais”, ressalta Fabio.

Serviço:

X Simpósio Internacional de Hematologia Oncologia D’Or
Data: 30 e 31 de maio
Local: Sheraton Grand Rio Hotel- Av. Niemeyer, 121 – Leblon, Rio de Janeiro – RJ
Inscrição: Home – X Simpósio Internacional de Hematologia da Oncologia D’Or

Com mais de 11 mil inscritos, Onco in Rio apresentou os principais avanços no tratamento e diagnóstico de câncer
Aplicação da Inteligência Artificial esteve entre os principais destaques. Oncologistas alertaram para aumento de casos em pessoas com menos de 55 anos

 

Um talk show entre o presidente da Oncologia D’Or, Paulo Hoff, e o CEO da Rede D’Or, Paulo Moll, fechou a décima edição do Onco in Rio

 

Da Redação

O uso da Inteligência Artificial e os avanços na patologia molecular estiveram entre os principais temas debatidos na décima edição do Congresso Internacional da Oncologia D’Or – Onco in Rio, encerrado no último sábado. Com cerca de 11 mil inscritos e mais de 300 palestrantes, o congresso foi uma oportunidade única de se atualizar nas práticas oncológicas mais modernas. “Antigamente demorava décadas para surgirem novidades relevantes na medicina. Hoje é uma questão de meses, tal é a velocidade que o conhecimento se renova”, ressaltou o presidente da Oncologia D’Or, Paulo Hoff, que aponta que o futuro do diagnóstico e do tratamento de câncer passa pelo aprendizado das melhores formas de se incorporar a IA nas clínicas e hospitais.

Para o cirurgião Carlos Domene, por exemplo, coordenador do curso de capacitação em robótica do IDOR, que participou da mesa sobre o uso de IA em cirurgia oncológica, a incorporação dessa tecnologia é inevitável e não há como negar as vantagens que ela entrega tanto para o médico quanto para o paciente. “Há quem ainda duvide do futuro da IA, mas lembro que houve quem disse que avião era uma coisa impossível e que a TV não teria futuro”, pontuou.

A anestesiologista e coordenadora do Centro de Estudos da Clínica São Vicente, Mariana Junqueira ponderou sobre como a IA pode contribuir na gestão da dor dos pacientes. Ela observou que muitas vezes as pessoas não leem as orientações para usos de opioides e considerou se a IA não pode ajudar, por exemplo, a fazer um vídeo que seja mais eficiente e ajude a melhorar a qualidade de vida do paciente.

As inovações foram destacadas em diversas palestras, ainda assim é quase que unanimidade que há muito onde avançar. A coordenadora da oncologia do Hospital São Luiz Jabaquara, Alexandra Khichfy, relatou, durante a mesa que debateu o estágio atual da oncologia, que o diagnóstico do câncer é um problema mundial, visto que, somente em 2019, cerca de 10 milhões de pessoas morreram por causa de algum tipo de tumor. Ela observou que é preciso melhorar o acesso aos exames, pois quanto antes diagnosticar, maior é chance de um desfecho positivo. Um exemplo é o câncer de intestino, que apresenta a taxa de sobrevida 90% em cinco anos e o de mama, que registra uma taxa de 100%. E as perspectivas para o futuro são ainda melhores. “Estamos caminhando para análises moleculares para entender profundamente os tumores e fazer tratamentos mais especializados”, afirmou.

O aumento do número de casos de câncer em pessoas com menos de 55 anos tem preocupado os oncologistas. O número de diagnósticos de tumores de intestino, por exemplo, cresceu de 11% para 20% entre 2005 e 2019. Outros tipos de câncer, como de esôfago e próstata, também têm registrado aumento de incidência em pessoas mais jovens. Hoff ressalta que a adoção de hábitos de vida saudáveis é uma das principais formas de se prevenir o câncer. “A obesidade crônica, vista pela OMS como um caso de epidemia global, está hoje entre os principais fatores de risco para a maioria dos tipos de câncer”, alerta.

O congresso também mostrou que pesquisadores estão cada vez mais otimistas no desenvolvimento de tecnologias que permitam prever as reais chances de uma pessoa vir a ter um câncer, bem como de antecipar a forma como ele vai se desenvolver. E o avanço da patologia molecular tem sido fundamental para permitir essa previsibilidade e identificar de forma mais precisa o tipo de câncer de cada paciente.

No sábado, encerrando a programação científica do congresso, uma mesa sobre o futuro dos testes moleculares reuniu o diretor médico da Anatomia Patológica da Rede D‘Or, Fernando Soares, e o norte americano Eric Walk, que tem mais de 20 anos de experiência em medicina de precisão e desenvolvimento de medicamentos oncológicos e hoje é diretor médico da PathAI, empresa que fechou parceria com a Rede D’Or para entregar soluções com IA. “A Inteligência Artificial vai ser o nosso melhor companheiro, pois vai atuar em diversos momentos, seja, por exemplo, avaliando resultado de exames de imagens ou de análises clínicas e patológicas. E a IA vai poder integrar todas essas informações”, ressaltou Soares.